segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A independência e a melancolia em Nana. — O fim.


"Ei Nana... Você se lembra do dia em que nos conhecemos?" – E com essa pequena frase de um monólogo de uma das nossas protagonistas, que entramos no primeiro episódio de uma obra que não merece apenas méritos por ser surpreendente, mas sim pelo fator que a mangaká Ai Yazawa sabe torna-la assim. – Desde inicio, em ambas as mídias apesar de suas diferentes introduções, Nana se dá inicio com um monólogo que exala desolação e descontentamento em suas palavras e sua narrativa. O piano por trás que a direção oferece no anime como também as paisagens que a Yazawa desenha em suas páginas resultam em uma sensação de abatimento e incomodo do atual presente, tudo resultado de uma extensa melancolia. Nana é uma obra melancólica e que sempre gira em torno de independência.

"Eu sou o tipo de garota que acredita em destino, então eu tenho certeza de que foi ele que nos uniu." A segunda linha do monólogo de Nana Komatsu – que no futuro seria conhecida como Hachi – transfere ao leitor ou também telespectador que a mesma é uma personagem delicada. E não por acreditar em tal destino mas sim pela maneira sútil que suas linhas são escritas, pela voz e o timbre um tanto quanto suave de entonação sútil. E caso a exuberância do piano por trás ou até a mesmo a paisagem que sobrepõe suas linhas e voz meiga não demonstre para você que a mesma é a representação de uma garota ingênua, no fim desse mesmo monólogo introdutivo, ela termina sua missiva com: "Pode rir, eu não me importo."

A ingenuidade de Hachi pode ser usada como comparação tanto pra compor ou sobrepor quem a personagem é. O que já difere de Nana Ozaki que ela mesmo por si só, pode ser a representação da malícia. Pois estamos falando de duas personagens que apesar de coincidentemente terem o mesmo nome, ainda sim como qualquer ser humano, são diferentes uma das outras– Porém não é como se as duas fossem a Lua e o Sol, ou água e fogo. As duas tem tanto em comum que nem mesmo sabem, justamente por terem um laço. Se for permitido inventar palavras, estou falando de tonalidade, sabe? Eu falo de diferenças sutis entre coisas, mais ou menos similares, postas em contraste; matiz, sutileza. – Ozaki e Komatsu, é um simples caso de nuances.


"A cidade onde eu nasci era completamente rodeada de montanhas. Não era uma cidade grande, e nem pequena. Não era magnífico, nem era bem uma cidade. Nem sequer tinha um mirante. (...) Meus pais não são ricos, mas tampouco são pobres. Minha infância estava repleta de suas risadas e sorrisos. Eu frequento uma escola preparatória feminina na minha cidade. Irei me formar logo." – Nana Komatsu.

"Não conheço o lugar onde nasci, tampouco o rosto dos meus pais. Eu não consigo lembrar o que minha mãe gostava, cheguei nessa cidade costeira quando tinha 4 anos. Vivendo em um pequeno restaurante com a minha avó materna, cresci em um ambiente cheio de duras palavras, hoje trabalho pra me manter ao mesmo tempo em que recolho os pedaços do meus sonhos.– Nana Ozaki.

O tom que é usado pra demonstrar ao leitor o que seria o pessimismo ou otimismo, não é centrado em apenas uma das personagens, Nana é um shoujo maduro, Yazawa quer mostrar como essas garotas tão diferentes se encontram uma na outra. É uma estória sobre elas chegarem a algum lugar. E mesmo que uma hora a narrativa tente demonstrar que as duas não conseguirão estar juntas nesse lugar que desejam, elas juntamente com leitor que acompanhou toda profundidade desse relacionamento, saberão o quanto difícil foi elas chegarem lá. E está tudo bem, porque a cada arco que Nana dava-se início, eramos recebido com a amorosa e delicada voz tanto da Hachi dizendo: "Ei Nana, você se lembra?" como também da Nana dizendo: "Hachi, você lembra quando eu disse aquilo?" Sempre serão essas pequenas citações ao som de um ilustre piano por trás, que fica a merce da sua interpretação se o conjunto das suas palavras com a música significam uma insatisfação, um pesar ou até mesmo uma nostalgia. Porque como eu disse, tudo em Nana se resulta em uma melancolia.


O sonho de Hachi por exemplo, é um simples lar com seu futuro marido e filhos brincando no jardim. Ela que já teve diversos casos, busca ir para o Tóquio para que possa viver com o seu namorado. Ainda sabendo que o mesmo deseja que ela tenha um trabalho e uma casa própria e não seja dependente dele, talvez sabendo que nada é para sempre. – Já Nana, ela que era vocalista de uma banda com alguns amigos, acaba decidindo comprar uma passagem só de ida para Tóquio pois é o melhor lugar pra seguir com sua carreira musical. Bom, pelo menos é isso que a narrativa nos oferece no começo da história.

E então temos duas garotas de mesmo nome dentro de um trem parado por causa de uma tempestade de neve. Onde uma garota ingênua com um simples sonho que pode se nomear até de "recatado" sente-se completamente livre e rejuvenescida, pronta para passar momentos felizes com seu namorado. Já a nossa outra garota que passa a imagem de "Punk", "rebelde" e como eu disse poderia representar a "malícia", está presa totalmente ao seu passado e a sua descomunal angústia. Enquanto Hachi, pode-se dizer um tanto quanto livre demais apesar da ingenuidade, Nana apesar de seu conceito sente-se presa.

"Meu aniversário é em 20 de março. Eu trabalhei duro para me comprar um presente, uma passagem de ida só para Tóquio. E bom, é só isso que eu levarei, minha guitarra e meus cigarros."

O que podemos interpretar de Nana, a obra em si. É que a Ai Yazawa não só pretendia criar um shoujo musical, usando a 'música' como uma simples forma de entretenimento dentro de sua obra – deixando claro que está tudo bem vendo apenas por esse modo – porém também todo o embasamento que a obra se sucede a falar de transtornos, possessividade, adultério, drogas, sexo, o mundo da música – empresarial e profissional é como uma forma de estudo. Eu digo uma forma de estudo, porque até mesmo o melancolismo da obra é usado como uma ferramenta. Pois no período da Renascença e do Romantismo melancolia era considerada como uma doença bem-vinda, uma experiência que enriquecia a alma. Yazawa usa dessas ferramentas de conduta na narrativa pra deixar você completamente interpretativo sobre as personagens, o que elas pretendiam dizer ou queriam realmente dizer.

É um rico e divertido aprendizado ao leitor que se encarregou de presenciar e entender a aventura das garotas rumo a Tóquio.

Duas garotas, com o mesmo nome e apesar de sonhos tão diferentes, dentro de um trem rumo a mesma cidade, desejam a mesma coisa. Pelo menos nesse atual presente, Nana Komatsu e Nana Ozaki desejam buscar a independência nesse mar de melancolia.


AVISO:
Eu gostaria muito de agradecer quem leu até aqui ou até mesmo já deu uma lida em outros textos desse blog, Sério! Eu fico muito contente de ver que tem gente que, como eu posso dizer, acham meus textos bons, por mais estranhos e esquisitos que eles sejam. E por isso eu gostaria muito de agradecer também a uma pessoa que me ajudou com esse texto, me deu algumas idéias e também me convenceu a assistir. Obrigado pela ajuda Sofia! Você é maravilhosa.

— Nate.
22/01/18.

2 comentários

  1. Acabei de conhecer seu blog e seus textos. Sem querer, cliquei no link de uma imagem da Emanon no Google Imagens, e é isso. Adorei sua maneira de escrita e assim que li um ou dois parágrafos de ''Omoide Emanon e um cigarro'' me satisfez por completo. Não sei quem és, mas te parabenizo pelo seu trabalho.
    Assim que eu terminar de assistir algumas das obras que você escreveu sobre, reaparecerei aqui para ler novamente.

    No fundo do meu coração, espero que esteja bem.

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    1. Eita, muito obrigado! Eu sou a pessoinha que escreve toda essa porcaria que você leu até aqui. Fico muito feliz que por ter gostado da maneira que eu costumava escrever, você não tem noção do sorriso que nasceu em meu rosto. hahaha. ♥ De verdade, agradeço muito o feedback e claro, volte sempre!

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